O projeto aBRAÇO nas Escolas
Você já parou para pensar se as escolas que você estudou, desde o primário até o ensino médio, eram acessíveis e inclusivas para as pessoas com deficiência? Ou quantos colegas com deficiência você teve na sala de aula?
Lembranças como sua professora preferida, um amigo de escola, brincadeiras no recreio, passeios educativos, be-a-bá no caderno e outros, são comuns para as pessoas sem deficiência, porém nem tão simples assim para as pessoas com deficiência. A inclusão social escolar é um assunto extremamente necessário, importante e urgente. Os familiares das crianças com deficiência passam por um processo desgastante, cansativo, e até capacitista para ingressar o seu filho no sistema educacional, e se esse grupo for pobre e negro, o quadro é bem pior.
Ainda assim, apesar das evoluções da humanidade, o seu filho terá lembranças de compartilhar brincadeiras com um colega com deficiência?
Foi pensando exatamente nesse cenário que nasceu o projeto aBRAÇO nas Escolas, escrito em parceria com a Alto Relevo Consultoria e apoiado pelo Movimento Bem Maior e Instituto PHI, que visa desmistificar e informar a sociedade, principalmente a comunidade escolar de alunos com deficiência, transtornos e síndromes, com atividades que incluem palestras, dinâmicas, eventos e outras ações. O objetivo principal é impactar e transformar sobre a temática, informando e capacitando o maior número de profissionais possíveis na área da reabilitação, pedagogia e ativismo: um projeto pioneiro na cidade de Salvador BA.
"A aBRAÇO me ensina muito sobre acolhimento, inclusão e sobre como saber enfrentar nossas adversidades e o capacitismo de forma conjunta, mas principalmente como encontrar soluções para tantos outros problemas que enfrentamos na sociedade. O projeto aBRAÇO nas Escolas surgiu quando estávamos gritando por inclusão, por um acesso a rede de educação pros nossos filhos, uma educação de qualidade; é muito gratificante ver profissionais sendo capacitados, saber nossos direitos como cidadãos, levar e colher informações importantes para o ambiente escolar e saber nossos filhos podendo estar na sala de aula aprendendo como deveria e tudo isso de forma inclusiva!" Jéssica Valdinucci, mãe atípica e membro do Conselho Consultivo da aBRAÇO, participou de várias etapas do projeto,
O projeto na prática
Ainda em 2019 foi organizado, desenvolvido e implantado o aBRAÇO nas Escolas, dividido em três etapas: Plantão da Inclusão, com visitas de palestrantes em escolas públicas e particulares da cidade de Salvador, no intuito de informar funcionários escolares referentes aos cuidados e à educação com os alunos com deficiência; Inclusão Começa Em Casa, que foram encontros com famílias e comunidades para informar, educar e sensibilizar sobre o tema; e Seja Voz, que capacitou e ouviu mães atípicas, que contaram suas vivências de inclusão e exemplo de atipicidade, além de ensiná-las sobre as leis e os conceitos úteis de inclusão.
Todas as etapas foram monitoradas e mediadas por Joana Passos, presidente da ONG aBRAÇO a Microcefalia, sendo que os dois últimos têm a parceria de Lau Patron, mãe atípica com grande referência em temas de capacitismo e inclusão, além dos demais funcionários e voluntários da instituição que contribuíram para o projeto.
Durante o ano de 2020 algumas atividades sofreram mudanças em seu formato, assim como no cronograma inicial, devido ao isolamento social em consequência do COVID-19. Porém isso não afetou o cumprimento das ações e a mensagem que o aBRAÇO nas Escolas levou.
Plantão da Inclusão
De outubro de 2019 até março de 2020, foram realizadas 19 visitas em escolas e creches, públicas e particulares, com palestras sobre educação inclusiva para os funcionários escolares. Ao total, foram mais de 400 funcionários impactados com o Plantão da Inclusão.
As palestras trataram de assuntos como inclusão, diversidade, acessibilidade, desenvolvimento da criança PNE, inclusão na escola pública, papel do professor no processo de inclusão, aprendizagem de crianças com deficiências múltiplas, práticas e recursos pedagógicos para uma educação inclusiva e seus desafios, diferentes tipos de deficiências, comunicação alternativa, síndrome congênita do Zika Vírus e integração sensorial.
"Gostaríamos de agradecer a Associação ABRAÇO à Microcefalia pela oportunidade tê-la conosco na formação de colaboradores da Santa Casa Bahia. Há três anos recebemos em um dos nossos espaços escolares uma criança com paralisia cerebral e microcefalia na qual, teoricamente, não tínhamos conhecimentos de como lidar. Contudo, encaramos o desafio como direito da criança e dever nosso em fazer a inserção e a socialização da melhor maneira que pudéssemos no âmbito escolar. Agradecemos toda a ajuda para que isso se tornasse realidade.” Flávia Mirella, Coordenadora da Escola Municipal Nossa Senhora Da Paz apoiada pela Santa Casa Bahia, visitada em Fevereiro de 2020.
Por conta do isolamento social, houve a necessidade de alterações no projeto, onde a sua continuidade foi realizada de forma virtual, através de lives (transmissões ao vivo) no canal do YouTube oficial da ONG, surgindo assim o aBRAÇANDO a Inclusão. Caracterizado como um curso de capacitação com inscrição no Sympla, com direito a certificado e acessibilidade com intérpretes de libras durante a exibição, o evento promoveu em julho de 2020 uma semana com diálogos abertos entre profissionais da área de saúde, educação, familiares e agentes de inclusão, levando informação e espaços confortáveis, onde todos contaram seus receios e dúvidas, assim como compartilharam conteúdos e experiências.
O evento obteve o total de 250 pessoas inscritas, espalhada em todo o Brasil, onde as vagas esgotaram rapidamente. A procura foi tão grande e intensa, que houve a necessidade de realizar uma segunda edição em agosto de 2020 para aqueles que não conseguiram se inscrever na primeira, e todas as 250 vagas foram preenchidas.
Inclusão Começa em Casa
Inicialmente estava programado nesta etapa a realização de encontros presenciais com famílias e comunidades para informar, educar e sensibilizar, pois acreditamos que inclusão é um assunto para conversar com todos, não apenas quem necessita da inclusão. Porém, o evento foi ressignificado para encontros virtuais, nomeado como Webinar, em lives no YouTube com acessibilidade de intérpretes de libras.
Com quatro encontros online, o projeto aconteceu de junho a setembro de 2020, com os temas Educação Inclusiva e a Criança PCD na Pandemia, Desafios Durante Isolamento Social, Representatividade Importa e Autocuidado Materno. Ao total, foram mais de 850 pessoas que acompanharam e participaram dos Webinars.
Seja Voz
E se mães atípicas contarem suas vivências de inclusão e serem exemplos de atipicidade? Isso foi o Seja Voz, que além de mostrar o seu protagonismo, capacitou as mães sobre leis e conceitos de inclusão.
Em janeiro foram abertas vagas para as mães que tivessem interesse em se tornar voz atípica, que enviaram por e-mail uma apresentação contando sua história e o motivo de querer participar do projeto. Foram selecionadas 15 mães, uma escolhida difícil em meio a tantas inscritas, adicionadas em um grupo do WhatsApp (aplicativo de bate papo em grupo) com contato direto com as mediadoras Joana Passos e Lau Patrón.
Por conta dos acontecimentos em relação a pandemia causada pelo COVID19, houve a necessidade de alterações e planejamentos para serem apresentadas de forma virtual, através do aplicativo Zoom (sala de vídeo chamada em grupo).
Assim, o Seja Voz foi realizado entre maio e agosto de 2020, com os temas “Quem somos e por que lutamos?”; “Inclusão e capacitismo: o que precisamos saber?”; “A diversidade é a nossa força”; “Especial é a mãe”.
Além dos encontros, as mães tiveram a oportunidade de participar de um treinamento de comunicação com a especialista Mariana Freire, que durante 15 dias realizou atividades lúdicas para desenvolver a comunicação criativa e genuína.
O projeto foi finalizado em uma live no Youtube, dia 29/10, com mais de 160 visualizações.
As mães integrantes do grupo nos deixam um lindo presente, suas mensagens de amor, afeto e inclusão! Todos disponíveis no YouTube e IGTV.
Fechando o ciclo
Além de todas as atividades citadas, em agosto o Cinema Lá em Casa, com a exibição por live do filme Meu Nome É Daniel, dirigido e protagonizado por Daniel Gonçalves; foi lançado o “Abraçando a Lei”, uma cartilha com todas as leis de inclusão da pessoa com deficiência, simplificadas e explicadas em uma parceria da advogadas Christiane Baladão e Carolina Mascia e a escritora Lau Patrón; serão doados 100 kits de Tecnologia Assistiva para crianças associadas da aBRAÇO que irão contribuir no seu desenvolvimento escolar e inclusivo; e foi documentado o aBRAÇO nas Escolas, através de captações de vídeos e fotos ao longo do ano, um material com lançamento em dezembro nas redes sociais.
Durante o projeto, os apoiadores doaram 460 cestas básicas em apoio durante a pandemia, distribuídas para as famílias associadas da instituição. Foi mais de um ano de planejamento, trabalho, produções e realizações, com cerca de 2.000 pessoas impactadas e transformadas ao longo do percurso, entre educadores, mães atípicas, voluntários e telespectadores das lives.
O aBRAÇO nas Escolas foi um projeto inédito em Salvador, onde cada etapa do processo foi fundamental para a construção do todo. O sentimento que fica é a gratidão e a sensação de dever cumprido. Agradecemos imensamente pelo apoio e suporte do Movimento Bem Maior e Instituto PHI. Hoje sabemos que o projeto transcendeu seus objetivos iniciais e se tornou uma chave de transformação social, aprendizagem, troca, acolhimento e afeto.
Um marco na história da instituição e uma oportunidade de começar a atuar na área de educação inclusiva.
Quer conhecer o livro "Abraçando a Lei"? Acesse aqui.
Foi um prazer compartilhar essa trajetória com você. Fica aqui nosso convite para você fazer parte desse aBRAÇO e ser membro no nosso site. Receba em primeira mão todas as notícias da ONG, é só clicar em login e se cadastrar, acesse: www.abracoamicrocefalia.org.br.
Grande abraço e até nosso próximo boletim.
Núcleo Comunicação
Cristiane Magalhães
Jaianne Costa
Joana Passos
Natália Borges
Rarisa Santos
Boletim 004/2020 - Edição Especial
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